AIgreja de São Sebastião ergue-se em frente à praça principal de Porto de Cima, localidade às margens do Rio Nhundiaquara, a seis quilômetros da sede do municipio de Morretes. Ahistória de Porto de Cima remonta ao início do século XVIII, com a garimpagem de ouro nos aluviões do Nhundiaquara. Na segunda metade do século, Porto de Cima ganhou maior expressão devido ao papel desempenhado pelo rio no transporte entre o litoral e o planalto. Em 1779, a fim de dar atendimento religioso à população local, o tenente-coronel D. Afonso Botelho de Sampaio e Souza e o capitão Antonio Rodrigues de Carvalho projetaram e iniciaram a construção de uma capela sob a invocação de N. Sra. da Guia e de São Sebastião.
Na primeira metade do século passado, a região, devido às facilidades de transporte e de força motriz oferecida pelo rio passou a abrigar engenhos hidráulicos de beneficiamento de erva-mate – produto que assumiria grande importância no mercado internacional, devido a problemas de ordem política na região platina. Com o crescimento populacional da localidade fez-se necessário ampliar a capela, recebendo seus zeladores, na década de 1840, autorização para os devidas obras. A transferência dos engenhos ervateiros para o planalto e a construção da ferrovia ligando-o ao litoral vão esvaziar economicamente Porto de Cima, iniciando-se sua decadência, afetando, inclusive, a reforma da capela, cujas obras se arrastaram por quase meio século.
Aigreja de Porto de Cima revela externamente as duas etapas de sua história, pois na ampliação feita no século passado a antiga capela passou a ser a capela-mor da
igreja. Como a primeira igreja era aberta para o lado oposto, sua fachada, de principal passou a fundos, fazendo com que a igreja ficasse dotada de dois frontispícios – o
antigo e o novo, solução que motivou em 1874 uma solicitação da comissão encarregada das obras, ao presidente da provincia, no sentido de ser autorizada a demolição do corpo da igreja pela falta de proporção e simetria do conjunto, obra que não chegou a ser executada.
As duas fachadas são hoje um testemunho da história local. Aoriginal correspondendo à fase áurea de Porto de Cima, é mais rica: o partido tradicional, de frontão triangular, é ornamentado por um par de volutas, de desenho típico do século XVIII, sobrepostas ao seu ápice. Pináculos balizam os três pontos do
ático e um cordão denticulado borda os lados. O retângulo dessa fachada é emoldurado por cunhais de seção semicircular. A porta de entrada foi provavelmente entaipada, havendo hoje um único vão nessa fachada – uma janela retangular. Lateralmente, foi construída a sacristia, com o comprimento da antiga capela. Seus vãos de janelas, em arco pleno, datam da segunda metade do século passado. Afachada atual, extremamente simples, compõe-se de um retângulo, vazado por uma porta de verga reta e um par de janelas de arco pleno, e coroado por um frontão triangular. Os únicos adornos são os pináculos laterais, de desenho e feitura rudimentares. Ladeia o frontispício uma pequena torre de vãos em plena volta e zimbório piramidal, que pela desarmonia que apresenta em relação à nova fachada deve ter sido erguida em época mais recente. Internamente, não há elementos artísticos valiosos, tendo sido o edifício vitima de muitas reformas desfigurantes, cujas consequências foram, em parte, atenuadas por trabalhos de restauração realizados após seu tombamento.